Trabalhadores cobram na Justiça direitos sonegados pelo patrão

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Atrasos de pagamento são comuns na Arte Móveis Gielow, 
que ainda não pagou salários de novembro nem o 13º

Trabalhadores das empresas Artemóveis Gielow, Pérola Madeira e Símbolo Madeiras – cerca de 26 pessoas – decidiram entrar na justiça contra o patrão, que há mais de um ano tem atrasado os salários e não deposita o FGTS. Até o dia 10 de dezembro os trabalhadores ainda não haviam recebido o salário de novembro e tampouco o 13° salário. Muitos receberam o salário de outubro no dia 26 de novembro. A produção está parada desde o dia 8 de dezembro. A assessoria jurídica do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário (Siticom) vai entrar com pedido de rescisão indireta do contrato de trabalho, alternativa legal que permite ao trabalhador receber todos os seus direitos até então violados, perante a Justiça do Trabalho. O Siticom também fará uma reclamatória trabalhista contra a empresa solicitando a intervenção do Ministério do Trabalho.

O advogado trabalhista Paulo Arrabaça explica que a rescisão indireta permite ao trabalhador que ele siga a sua vida em busca de outro emprego e ao mesmo tempo garante que a lei trabalhista seja respeitada e a indenização do trabalhador seja paga. A ação inclui ainda a solicitação judicial de arresto dos bens da empresa, uma medida preventiva caso seja decretada a falência da Artemóveis Gielow e das outras duas empresas de Jaime Gielow, antes do resultado da ação pelo Ministério do Trabalho.

A presidente do Siticom, Helenice Vieira dos Santos, os diretores Jair Rosa e Antônio Antunes conversaram com os trabalhadores dia 8 de dezembro, pela manhã, no pátio da empresa (quando o patrão Jaime Gielow esteve presente) e, à tarde, em local público perto da empresa. Os trabalhadores relataram mais uma vez o que já era do conhecimento do Sindicato: que a empresa tem atrasado os salários de forma recorrente há mais de um ano, não tem depositado o FGTS (Fundo de Garantia de por Tempo de Serviço) além de desrespeitar outras leis trabalhistas, como pagamento de horas extras e adicional de insalubridade. A empresa registra alto índice de acidentes de trabalho, também.

“Diante dessa situação, que perdura há algum tempo, concordamos que não há mais nada a fazer do que entrar na Justiça e garantir que os trabalhadores sejam indenizados” afirma Helenice. De acordo com ela, o dono da empresa propôs ao Sindicato um acordo para pagar os atrasados de forma parcelada, o que não foi aceito. “Se ele não tem cumprido com o contrato de trabalho, certamente não cumpriria o acordo”, analisa a sindicalista.

Natal sem presentes

Os trabalhadores da Gielow vão passar o Natal sem presentes e até a ceia pode estar comprometida. Sem contar a preocupação com as contas atrasadas e a insegurança do desemprego. A perspectiva em relação ao Ano Novo se traduz na confiança na Justiça do Trabalho. Os trabalhadores que decidiram dar um basta à exploração esperam receber o mais rápido possível o que lhes é de direito. Alguns trabalharam na Móveis Gielow por mais de 20 anos. Entre eles, amigos de infância, vizinhos, conhecidos do patrão Jaime Gielow que, ao desrespeitar o acordo de trabalho, também traiu a confiança de todos. “Ninguém entende, ele (o patrão) diz que não tem dinheiro, mas estávamos trabalhando a todo vapor, fazendo 250 portas por dia”, questiona Antônio Antunes da Silva, dirigente sindical de base e que está há nove anos na empresa. De acordo com ele, a situação começou a se agravar de uns três anos para cá.

Valdir José Lara tem 53 anos e três de empresa. Decidiu buscar na Justiça o que o patrão lhe tem negado, sistematicamente, que é o direito, entre outras coisas, de receber o salário do mês na data certa, e integral. Ele é casado, tem três filhas menores de idade. A esposa Maria Fátima trabalha no Frigorífico da Ceval e ela é que vai garantir o pagamento das contas, o Natal das crianças e a manutenção da casa. “Ela entendeu a nossa situação”, afirma Valdir.

Acidentes são comuns

Oito trabalhadores das empresas de Jaime Gielow estão afastados pelo benefício dos auxílios doença e acidente de trabalho. Dia 10 de junho desse ano Orlando Bridi sofreu acidente quando trabalhava na destopadeira da empresa Arte Móveis Gielow. “Fui puxar, trancou, puxei de novo e veio com tudo”, conta o trabalhador, que perdeu todos os dedos da mão esquerda, “uma desgraça total”. Ele já havia avisado algumas vezes que “a serra era imprópria para o eixo da máquina, trancava ao ser puxada”. Com oito anos de trabalho na empresa, completados, três deles na caldeira, Orlando é casado, tem dois filhos. “Dizer que não tem dinheiro para pagar os trabalhadores é uma mentira. Cola, lâmina, a matéria prima têm que ser pagas à vista, para isso tem dinheiro?”, questiona o trabalhador. “Ele é um velhaco, primeiro de tudo deveria pagar os funcionários que estão tratando ele”, desabafa Orlando.

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